IOLE DE FREITAS: DECUPAGEM

[VERSÃO EM PORTUGUÊS ABAIXO]

Curada por João Bandeira, Decupagem reúne 29 obras y 90 documentos que trazan el recorrido artístico de Iole de Freitas (Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 1945) en más de 40 años de actividad. La muestra en la Galería del Instituto Ling (Porto Alegre, Brasil) incluye desde sus primeras obras creadas en la década de 1970 en Super 8, pasando por las investigaciones del espacio real que buscaba integrar las obras con el entorno arquitectónico de los años ochenta, hasta sus producciones más recientes, realizadas en estructura recortada de acero inoxidable. La exposición también presenta esculturas en otros materiales, como alambre de cobre y latón, así como fotografías, maquetas y dibujos.

Esta exposición itinerante debutó en 2018 en el Instituto de Arte Contemporáneo de São Paulo (IAC), y también se presentó en Casa Firjan, en Río de Janeiro, en 2019. A Porto Alegre llega con tres nuevas obras, una de las cuales, creada a principios de 2020 en acero inoxidable con pintura artesanal, fue realizada especialmente para ocupar la galería del Instituto Ling.

Por João Bandeira

En el vocabulario cinematográfico, decoupage se refiere a tres momentos distintos de una obra. La última es la operación de estructurar una continuidad, que llamamos de film, mediante el ensamblaje de fragmentos compuestos por secuencias de imágenes captadas previamente. En otro extremo, el término hace referencia a la concepción anticipada de toda la obra, un dibujo detallado de cómo se puede realizar la captura y posterior ajuste de las distintas partes de la secuencia en el montaje, tratando de prever el resultado final. También se denomina decoupage al conjunto de elecciones realizadas en la etapa intermedia de este proceso, al rodaje de las secuencias que, a su vez, cortan espacios en fragmentos de tiempo, transformando en ocasiones el guión previsto.

La noción de decoupage, como acciones que producen continuidades a partir de recortes, podría caracterizar sumariamente la extensa producción de Iole de Freitas en más de cuatro décadas de actividad artística y, en paralelo, la propuesta de la curaduría. Como se aprecia en las obras y documentos de esta exposición, desde la década de 1970 su trabajo se ha desdoblado en continuidades que, en buena parte, viven de su disposición entrecortada: desde el cuchillo que avanza rompiendo un tejido en una de sus películas de esa época, hasta las desviaciones que tubos metálicos y placas de policarbonato se imponen a sí mismos, recortando los grandes espacios donde se instalan, mientras se lanzan vigorosamente en ellos, en obras más recientes.

En estos términos, también se puede pensar en las secuencias fotográficas en las que un cuerpo se entrega al mirar solo en la misma medida en que se refleja en fragmentos, en las obras en las que los más diversos materiales industrializados se esfuerzan para encadenar sus diferencias, en el entrelazamiento complejo de telas e hilos metálicos de sus relieves, o en las nuevas esculturas de acero que, como varias de sus instalaciones, se preguntan hasta qué punto el cruce de formas en contraposición llega a constituir un ser.

Iole también decupa minuciosa e incansablemente lo que se propone producir, pero permitiendo alteraciones durante el enfrentamiento directo con las propiedades de los materiales que utiliza en sus obras. Y también en función de su situación, es decir, del abanico de relaciones que se establecen entre ellas y los espacios en los que se encuentran, modificándose recíprocamente. En este constante ir y venir, el dibujo, en sus formas más diversas, parece ser el principal instrumento de conducción, decupando el hacer, ya sea la anotación rápida de una idea recién vislumbrada, el diagrama de una película, la búsqueda repetida del mejor impulso de una curva en una pieza tridimensional,  el comentario gráfico de una instalación ya realizada, y otra serie de casos diferentes.

Asociados a otros documentos de la artista aquí mostrados, muchos de estos dibujos permiten vislumbrar la intuición y el raciocínio vertidos en el trabajo, que se revierten, para ella y para nosotros, en obras (incluyendo dibujos). Sin embargo, así como las obras cuando están listas no son en sí mismas un fin -dado que es precisamente cuando puede comenzar su vida pública-, los diversos dibujos no son solo testimonios de origen. Entre anotaciones, proyectos, estudios de variada elaboración y lo que ya ha obtenido el estatus de obra, todo en la tensa fluidez de la producción de Iole de Freitas parece mantener en el horizonte las articulaciones del propio movimiento.

IOLE DE FREITAS: DECUPAGEM

Com curadoria de João Bandeira, Decupagem reúne 29 obras e 90 documentos que refazem o percurso artístico de Iole de Freitas (1945) em mais de 40 anos de atuação. A mostra contempla desde os primeiros trabalhos da artista mineira, criados na década de 1970 em Super 8, passando pelas investigações do espaço real, que buscavam a integração das obras com o ambiente arquitetônico na década de 1980, e pelas produções mais recentes, em estrutura de aço inox recortado. Há ainda esculturas em diversos outros materiais, como fio de cobre e latão, além de fotografias, maquetes e desenhos.

A exposição itinerante estreou em 2018 no Instituto de Arte Contemporânea de São Paulo, o IAC, e ocupou também a Casa Firjan, no Rio de Janeiro, em 2019. Em Porto Alegre, a mostra cronológica chega com três novas obras, sendo uma delas inédita, criada no início de 2020, em aço inox com pintura artesanal, especialmente para ocupar a galeria do Instituto Ling.

Por João Bandeira

No vocabulário cinematográfico, decupagem refere-se a três diferentes momentos de um trabalho. O último deles é a operação de estruturar uma continuidade, que chamamos de filme, por meio da montagem de fragmentos compostos por sequências de imagens previamente captadas. Na outra ponta, o termo se refere à concepção antecipada de todo o trabalho, um desenho detalhado de como poderão ser feitos a captação e o posterior encaixe das várias partes-sequência na montagem, procurando antever o resultado final. Também chama-se decupagem o conjunto de escolhas feitas na etapa intermediária desse processo, a filmagem das sequências que, por seu turno, recortam espaços em pedaços de tempo, às vezes transformando o roteiro previsto.

A noção de decupagem, significando ações que produzem continuidades a partir de recortes, poderia caracterizar sumariamente a extensa produção de Iole de Freitas, em mais de quatro décadas de atividade artística – e, paralelamente, a proposta da curadoria. Como se pode ver nas obras e documentos desta exposição, desde os anos 1970 seu trabalho se desdobra em continuidades que, em boa parte, vivem de sua disposição entrecortada. Da faca que avança rompendo um tecido, em um de seus filmes daquela época, até os desvios que tubos metálicos e placas de policarbonato impõem a si mesmos, recortando os grandes espaços onde se instalam enquanto se lançam vigorosamente neles, em obras mais recentes.

Nesses termos, pode-se pensar também nas sequências fotográficas em que um corpo se entrega ao olhar apenas na medida mesma em que se reflete em fragmentos, nos trabalhos em que os mais diversos materiais industrializados se esforçam para encadear suas diferenças, no entrelaçar complexo de telas e fios metálicos de seus relevos ou nas novas esculturas de aço que, como várias de suas instalações, interrogam-se sobre até que ponto o atravessamento de formas em contraposição chega a constituir um ser. 

Iole também decupa minuciosa e incansavelmente o que intenciona produzir. Mas permitindo-se alterações de percurso durante o confronto direto com as propriedades dos materiais que utiliza em suas obras. E em função de sua situação, isto é, do leque de relações que se estabelecem entre elas e os espaços em que se encontram, modificando-se reciprocamente. Nesse constante ir e vir, o desenho, em suas mais diversas maneiras, parece ser o principal instrumento de condução, decupando o fazer – seja a rápida notação de uma ideia apenas vislumbrada, o diagrama para um filme, a procura repetida da melhor impulsão de uma curva numa peça tridimensional, o comentário gráfico de uma instalação já realizada e mais uma série de casos diferentes.

Associados a outros documentos da artista mostrados aqui, muitos desses desenhos possibilitam entrever a intuição e o raciocínio vertidos no trabalho, que revertem-se, para ela e para nós, em obras – incluindo desenhos. No entanto, assim como obras quando prontas não são, em si, um fim – dado que é justamente quando sua vida pública pode começar –, os desenhos diversos não são apenas testemunhos de origem. Entre anotações, projetos, estudos de elaboração variada e o que já obteve o estatuto de obra, tudo na fluidez tensa da produção de Iole de Freitas parece manter no horizonte as articulações do próprio movimento.

IOLE DE FREITAS: DECUPAGEM

Galeria do Instituto Ling, Rua João Caetano, 440 – Três Figueiras – Porto Alegre, Brasil

Hasta el 29 de mayo de 2021